A LENDA DA PADROEIRA
Corria o ano de 1632, Angra dos Reis, crescia... as fazendas, as lavouras, os canaviais, os cafezais, começavam a aparecer, era grande e produtivo o labor humano. Crescia uma população nobre, feliz, hospitaleira e temente a Deus. A caminho da Vila de Itanhaém, singrava nossos mares, belo veleiro, levando a seu destino uma carga preciosa... A marujada sempre alegre, afoita à lida do mar, se entregava ao timão, em aprestar as velas, contando já com o descanso e os prazeres que teriam ao fim da jornada. Eis, porém que tudo muda de repente. O céu se cobre em negras nuvens, forte ventania começa a enfunar e desbaratar as velas, o mar se encrespa, a nau em apuros, sem condições de seguir seu rumo, envereda então na baía que lhe está mais próxima, procurando ali, um ancoradouro seguro até passar a borrasca. Passada a tempestade, saem os grandes da terra a ver os estragos causados por tão grande tormenta. Dirigem-se ao cais, pois já haviam pressentido os problemas que a nau e sua tripulação passaram. Demonstraram sua solidariedade e souberam pelo comandante da nave, para onde iam e o que levavam: Era uma belíssima imagem da Virgem da Conceição. Mostraram-se os nossos conterrâneos desejosos de ver tão bela obra, mas lhes foi negado, por estar lacrada a caixa em que vinha a imagem. Amainado a tempo, consertado, o barco, sai ao seu destino, para cumprir sua tarefa. Mas novamente se forma nova borrasca e a nau passando por novos estragos, retorna a nosso cais. Mais uma vez se aproxima o pessoal da terra, e os edis se propõem a ficar com a imagem, porém o comandante se nega por a mesma estar destinada a Vila de Itanhaém. Feitos os reparos precisos o barco se faz ao largo. Fora das águas da baía, novo temporal se forma. De límpido o céu, se torna um negrume, das águas mansas, vagalhões imensuráveis, varriam o tombadilho, a ponto de carregar o mais calejado marinheiro, uma tormenta em todo seu furor. O barco à deriva, a ponto de sossobrar, sem a menor esperança de salvação, o comandante pede: Salva-nos Nossa Senhora da Conceição, vejo que é de vossa vontade dessa terra não sair, salva-nos que aqui a iremos deixar. E assim foi feito. Prontamente acalma-se o tempo, o barco volta a nossa Angra, e, os angrenses com todo amor filial recebem a preciosa imagem e tomam para sua padroeira, a Virgem Imaculada Nossa Senhora da Conceição. Conta também a lenda, que ao voltar a nau o nosso porto, grande cardume de peixe, ainda não vistos nessas paragens, a acompanhavam. É a cavala, o peixe mais saboroso, passou a ser o prato típico da região. E mais ainda: A espinha do centro da cabeça da cavala tem a forma da imagem de Nossa Senhora. É só cozinhar inteira e comprovar.