Era comum à tardinha
nos dias de verão, irmos à fonte da Carioca para um passeio e beber água fresca
e límpida que das cinco bicas jorrava. Conta lenda que quem toma água da bica
do meio, não mais esquece Angra e, se dela sair, um dia volta. Também era
comum os rapazes esse passeio e ao nos encontramos, trocávamos olhares, sorrisos,
cumprimentos e, muito raramente tinha lugar um pequeno bate papo, uma conversa.
Assim, já acontecia em fins do século passado. Sinhazinhas com suas mucamas
vinham dar o seu passeio. Receber a brisa refrescante e abeberar-se da água
cristalina. O frescor ao pé da fonte, o aroma das acácias, das flores das
paineiras e das flores silvestres que a ela circundavam, tornavam o local
paradisíaco. Os jovens da época, almofadinhas ou janotas, também apreciavam
esse passeio; também olhares eram trocados, sorrisos furtivos... Certa vez
um mais afoito, chega-se à mucama e, como a pedir-lhe de beber, deixa em suas
mãos, um bilhete crivado de frases lindas, cheio de juras de amor e pedindo
permissão para aproximar-se da jovem escolhida e que lhe foi concedido. São
poucos os encontros ao pé da fonte, mas o bastante para compreenderem que
se amavam. O pai da jovem ao saber desses encontros, proíbe o passeio. O rapaz
apaixonado vai a fonte todos os dias, esperando rever a musa dos seus sonhos.
Mas, em vão. Triste e abatido ingressa nas fileiras dos Voluntários, para
a Guerra do Paraguai. Manda-lhe ainda um recado: Ainda espera encontra-la
um dia. Mesmo que seja depois de morto. A moça definha dia a dia, lamentando
o amor perdido. Morre o rapaz, nos campos de batalha... A jovem termina seus
dias em seu leito de dor... Dizem os antigos, que em noite de lua cheia, com
o luar se infiltrando e espalhando sua luz entre as folhas da paineira, é
visto duas sombras, de mãos dadas, junto a fonte.